Por onde canta o Ivo?

Ivo agora está livre da matéria e da dor, sua voz muito mais vibrante e seu humor mais ácido, acredito que exista lá, perto de uma estrela não muito quente, uma caixa de cerveja virada aonde ele se sentará e assistirá os seus melhores momentos, assim como fazia no Sinézio.

domingo, 11 de abril de 2010

Homenagem de Mário Bortolotto

E O IVO FOI VER A NEVE


Se é que é assim por lá. Pra onde o Ivo foi. Ele que saiu pouco de Curitiba. E parecia gostar muito de lá. Às vezes eu imagino o outro lado como um lugar onde neva sem parar. E me dá a impressão de que o Ivo vai ficar bem por lá. Algo como o Valhala pros vikings. Porque o Ivo sempre me lembrou um viking. Um guerreiro que veio do frio. Com aquele cabelo comprido e o corpo enorme. Tem um filme que eu gosto muito que é "O 13º Guerreiro" (mais um daqueles filmes B que eu venero) e eu sempre imaginei o Ivo como um dos atores desse filme. O Ivo a que me refiro é o Ivo Rodrigues, vocalista da lendária banda de rock paranaense "Blindagem" e que faleceu ontem.

 Lembro do Ivo tocando em botecos de Curitiba. Ele simplesmente sentava lá em algum banco com o seu violão e tocava. Lembro dele tocando Beatles e cantando com aquele seu vozeirão abençoado. E eu sentava lá, pedia uma cerveja e ficava ouvindo. Lembro quando ouvi o primeiro LP do "Blindagem". Lembro das parcerias com Paulo Leminski : "Palavras, minhas palavras / chamas nos seus ouvidos / poemas, minhas palavras / minhas palavras, tão tuas, tão nossas / sou, você sabe / você sabe, eu sou / seu problema, uma chave, um poema / um bom dia que você escutou / à meia-noite, uma palavra, meu nome / chamas nos seus ouvidos / seu nome chama à meia-noite / chamas meu meio nome / metade de mim te procura / metade te acha".

Hoje peguei o compacto do Blindagem que mais gosto de ouvir: "Você não cansou de me convencer / que eu sou o cara puro que você deve ter / mas pode me crer / você sendo tão pura, baby, vai desaparecer / eu sou o cara duro que vai te amolecer / se o dia é de sol, sou eu é que faço chover / sou de carne e osso / adoro uma tentação / me provoque pra ver / pura. pura, pura, esse seu jeito de pura, é pura provocação".

Lembro que a Aurea Leminski uma vez me contou que o Ivo foi num desses programas de mulheres vespertinos e a apresentadora toda perua pediu pra que ele cantasse uma música enquanto arreganhava um sorriso plástico no seu rosto. Ivo pegou o violão e mandou ver : "Às vezes ando tão fudido..."

Não vamos mais encontrar o Ivo tocando em algum boteco do Largo da Ordem. Nesse momento ele deve estar em algum iglu lá do céu cantando pra aquecer o coração de alguma esquimó. Espero que ele esteja bem. De minha parte, vou ficar por aqui cantando baixinho: "Hoje eu quero passar pela ponte sorriso / até um país capital paraíso / hoje eu quero quebrar a barreira do som / e a fronteira do silencio / hoje eu quero ser são e ser salvo / ser flecha, ser alvo, hoje não / hoje eu quero andar por aí, ser guarda, ser guri / hoje aqui, amanhã ali, hoje sim / hoje eu nasci"

Mário Bortolotto

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BOM TE VER, EM NOSSAS LEMBRANÇAS!

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TRIBUTO AO ROCK PARANAENSE

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foto Ademir Gomes Jr